Em outubro de 2017 escrevi neste espaço o artigo: “Otimismo em Washington e o ciclo positivo para emergentes” sobre as impressões das reuniões durante o encontro do FMI em Washington. Em 2017, o otimismo era generalizado, porém, no último evento no mês de abril, organizado pelo FMI e pelo Banco Mundial, o tom foi de otimismo moderado.
Apesar de manter a previsão de crescimento mundial em 3,90%, revisada para cima no início do ano, alguns riscos começaram a dominar os debates entre os investidores.
Os números mais fortes de salário na economia americana, no final de janeiro, iniciaram o debate sobre o ritmo de altas de juros pelo banco central americano, que deverá ser mais rápido do que o previamente discutido. Esse pequeno ajuste nas expectativas foi suficiente para iniciar uma forte queda nas bolsas americanas.
O aumento da volatilidade dos mercados gerou a quebra de fundos alavancados na venda de volatilidade da bolsa americana, o que alimentou as ordens de “stop-loss”.
Passado esse susto, o presidente Trump iniciou uma troca de sua equipe principal, o que representou uma ameaça de guerra comercial com o mundo e, em especial, com a China. Buscando melhorar o equilíbrio do déficit comercial americano, anunciou um plano para taxar em US$ 50 bilhões a pauta comercial com a China, número este que pode ser aumentado em mais US$ 100 bilhões dado um anúncio recente do presidente e de seu representante comercial.
Os escândalos com as investigações na política americana em relação às últimas eleições colocaram a empresa Facebook na linha de frente por compartilhar e vender dados de seus usuários. Junto com comentários do Trump de que a Amazon deveria pagar mais impostos, atingiu o setor que foi responsável pela forte alta da bolsa americana nos últimos anos. Como se diz no meio militar, os generais foram atingidos e estão sangrando, assim os soldados perdem a referência.
Para adicionar mais volatilidade ao ambiente, o risco geopolítico aumentou. Sanções contra a Rússia passaram a atingir as empresas, o que afetou o mercado de commodities. Risco de novas sanções e quebra do acordo dos EUA com o Irã também estão dominando os noticiários.
Iniciamos o ano de 2018 com o principal risco vindo de um aperto mais forte no juro pelo banco central americano e, após o primeiro trimestre, já estamos monitorando vários riscos que podem impactar principalmente o cenário para 2019 e 2020.
Apesar disso, a percepção geral é que o cenário para as economias emergentes segue positivo. Não vai repetir o fluxo recorde de recursos que atingiu no ano passado, mas o fluxo para bolsa de países emergentes tem tudo para seguir firme. Apesar dos riscos na margem, o cenário de aceleração do crescimento para as economias emergentes e europeia segue positivo e ainda existe um fluxo grande potencial via estoque. Foram anos de saída de recursos de países emergentes para os EUA que devem voltar.
A China segue surpreendendo positivamente. Tivemos mudanças significativas em termos de política no país. Há grande sensação na liderança chinesa de que eles têm maior controle sobre a economia. Isto pode ser visto pela redução do crédito sem forte impacto no crescimento nacional.
A percepção dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil é de muito ceticismo. Ainda estão pouco alocados em relação à base histórica e não acreditam no patamar de juro em um dígito. Sensação é de que só voltam a investir no Brasil após as eleições. Após anos de decepção no rumo da política econômica brasileira, não dá para culpar o investidor estrangeiro de ter cautela. O cenário, de fato, é de grande incerteza em relação a quem serão os candidatos que irão para o segundo turno e se vamos seguir avançando nas reformas.
Apesar do aumento dos riscos, o cenário ainda é positivo. Com a eleição para o Congresso dos EUA em novembro, é natural que Trump volte com a agenda que o elegeu como presidente. Está sendo duro nas negociações para mostrar aos seus eleitores que está fazendo de tudo para cumprir com suas promessas.
Da mesma forma que foi duro em relação às negociações com o Nafta e com a construção do muro entre os EUA e o México e está caminhando para um acordo bom para os três países, essa postura mais dura que assusta no início tende a convergir para um acordo razoável. As tensões em relação à guerra comercial e às sanções contra a Rússia devem diminuir nos próximos meses.
Os resultados das empresas americanas no primeiro trimestre estão muito positivos, o que tira a pressão baixista para os preços. Os bancos centrais das principais economias estão diminuindo o tom em relação a um aperto mais forte dos juros.
Os fundamentos positivos da economia global e em especial aos emergentes são positivos. Tivemos um ajuste grande de preços nesses primeiros meses do ano e, esses riscos se dissipando, o mercado deve voltar para a tendência positiva. No Brasil, com a proximidade das eleições, o ambiente tende a ficar mais volátil, mas a boa notícia é que os discursos dos candidatos estão convergindo para uma política econômica seguindo com as reformas.
*Luiz Eduardo Portella é sócio-gestor do Modal Asset Management