Duas vezes por ano, investidores se reúnem durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial, participando de painéis de discussões sobre economia global e avaliando as oportunidades de investimentos e os riscos para o cenário. A reunião mais importante é a que se dá em outubro, pois as atenções se voltam sempre para as oportunidades para o ano seguinte. O saldo dessa reunião foi muito positivo para a economia global. A frase que esteve sempre presente em todos os painéis era de crescimento mundial sincronizado.
O FMI revisou o crescimento mundial para cima mais uma vez para este ano e o próximo, para 3,60% em 2017 e 3,70% respectivamente, apesar de ter cortado a expectativa de crescimento para EUA e a Inglaterra devido a uma perspectiva mais fraca do estímulo fiscal projetado pelo corte de impostos e aos efeitos do Brexit. Revisões positivas no Japão, Europa e países emergentes ajudaram a manter o tom otimista para o próximo ano.
O otimismo em Washington se resume na expectativa de o mundo ter deixado para trás a fase de recuperação da atividade, para entrar agora em expansão, onde vários países entram na etapa de aceleração do crescimento. Após cinco anos, o otimismo voltou com a Europa, onde 18 de 19 países estão crescendo acima do potencial, e com os países emergentes, que provavelmente marcaram em 2016 um ponto de inflexão, voltando a iniciar uma fase de expansão superior à dos países desenvolvidos.
Uma pesquisa promovida por um grande banco americano com investidores presentes em Washington mostrou que, apesar do grande rali que vimos este ano nos mercados emergentes, a classe de ativos que vai apresentar os melhores retornos em 2018 será a de bolsas dos países emergentes, com 40%, seguida de bolsas de Europa e Japão com 24%; moeda local dos países emergentes com 15%; bolsa americana, com 7%; juro americano, com 7%; e crédito nos mercados emergentes, 7%.
Quando os investidores foram perguntados sobre onde iriam adicionar investimentos entre os mercados emergentes, a América Latina ganhou com 61%, seguida de países emergentes da Europa com 16%, Ásia (13%), África (7%) e Oriente Médio (2%).
Em relação aos riscos para a classe dos países emergentes para os próximos 12 meses, 69% se mostraram preocupados com uma desaceleração do crescimento chinês mais forte que a esperada, e 24% com tensões geopolíticas com a Coreia do Norte. Notem que uma preocupação em relação a uma subida de juro mais forte nos EUA ficou de fora.
A percepção geral é que os mercados emergentes estão mais preparados para enfrentar um ambiente monetário mais restritivo pelo banco central americano devido à melhora dos números de conta corrente, acúmulo de reservas e volta do crescimento. O fato de entrarmos em um ciclo de expansão sincronizado vai permitir a sustentação das commodities e beneficiar os países emergentes.
A forte política monetária expansionista adotada pelos bancos centrais americano, europeu e japonês permitiu mais apetite por risco, com os bancos globais se fortalecendo. Isso gerou um estímulo para o crescimento.
Diferentemente de outros ciclos econômicos, essa retomada está sendo muito gradual e com inflação baixa, e isso vai permitir um ciclo de retomada mais longo se comparado aos últimos ciclos de expansão. As estimativas são de um início de ciclo nos mercados emergentes que ainda pode durar três anos.
O fluxo que vimos em 2017 para os emergentes está apenas no início. Os grandes alocadores globais e fundos de pensão ainda não começaram a alocar nos emergentes. E, como vimos na pesquisa acima, a América Latina continuará a ser o foco desse fluxo, puxado por Brasil e Argentina, que estão liderando esse novo ciclo de crescimento.
O Brasil continuou atraindo as atenções dos investidores com as salas cheias para ouvir as apresentações das autoridades brasileiras. Perguntas sobre a possibilidade de se votar uma reforma da Previdência, mesmo que reduzida, ainda este ano estavam entre as mais frequentes, junto de perguntas em relação às eleições de 2018. O cenário de fragmentação dos candidatos, parecido com o que ocorreu na eleição para a prefeitura do Rio de Janeiro, é a principal preocupação. Isso envolveria vários candidatos de centro-direita dividindo os votos e permitindo um candidato de esquerda avançar para o segundo turno junto com o candidato de extrema direita.
O otimismo com um melhor ambiente para a população em 2018, quando o país estará crescendo 2,50%, com a taxa de desemprego se reduzindo, inflação baixa e juro na casa dos 6% ao ano, ainda deixa os investidores confiantes de que não haverá surpresas negativas na eleição. Temos que aproveitar o otimismo em Washington e o início do ciclo positivo para os países emergentes para continuar avançando com as reformas e atrair fluxo para investimentos, entrando assim em uma trajetória de crescimento sustentável.
Luiz Eduardo Portella
sócio-gestor do Modal Asset Management